
Costumamos depositar no outro o que, no fundo, desejamos a nós mesmos ou deveríamos nós mesmo ter ou ser.
Depositamos em nossos melhores amigos o compromisso de saber como vai a amizade, como vai você - o amigo abandonado, coitado, que raras ligações recebe. hahahaha.. Acreditamos que devem, os nosso amigos, continuarem fiéis aos nossos pactos, fiéis aos nossos segredos, fidedignos à aquela tão intacta amizade que tentamos fazer com que perdure ao longo de anos. Em alguns casos, até por mero esmero, já que os novos tempos fazem não suportar tanta rigidez.
Depositamos em nossa família, o compromisso de reunião aos domingos de manhã, com o pão quentinho e a língua afiada para uma conversa à resumir toda a semana. Depositamos em nossa família esquecer dos estresses dos últimos seis dias, e creditar à aquele momento palavras sinceras e tudo mais que ensinariam os mandamentos de uma família unida e que se ama, apesar dos apesares cotidianos.
Depositamos em nosso(a) namorado(a)a missão de tornar o nosso relacionamento a imagem e semelhança de um namoro perfeito, digno de fotografias invejáveis. As surpresas devem ser constantes: xô monotonia! Depositamos neles a missão de haver carinho em cada ligação, em cada aceno. Os abraços devem ser tão fortes que permitam uma troca de amores sem dizer eu amo, sou amado. Depositamos nelas a responsabilidade, praticamente obrigação, de nos sentirmos amados por elas, sob pena de frustração inevitável da paixão que inflamou o início de relacionamento. Quantos depósitos fazemos em nossos companheiros de relacionamento...
Depositamos em nossos amigos de trabalhos a responsabilidade da perfeição em relatórios, em reuniões impecáveis, em tratamentos indescritíveis aos superiores. Todos nossos amigos de trabalho devem agir perfeitamente, de modo a permitir que a engrenagem de seu grupo ande conforme manda a música. Depositamos neles a missão de fazer dar certo.
E assim por diante: vamos depositando sentimento atrás de sentimento no próximo, expectativa após expectativa. E acabamos, inevitavelmente, nos deparando com pequenas frustrações diante taaantos depósitos.
Nos decepcionamos quando esperamos aquele abraço tão apertado, e recebemos um tapinha nas costas.
Nos decepcionamos quando percebemos que estamos sendo deixado de lado por aquela velha amizade, que acreditávamos ser intacta ao tempo. Aquela amizade que nos dias de porre eram pauta para lágrimas e versos poéticos de bêbados amigos! Ou amigos bêbados?! Enfim..
Nos decepcionamos quando vemos que o camarada fez uma reunião medíocre, que seu relatório é deplorável.
Nos decepcionamos com aquela paixão que depositamos tanto brilhantismo e que na verdade não passa de um namoro monótono.
E assim vamos nos decepcionando, decepcionando... Será por conta de depositários infiéis que vamos convivendo ao longo da vida? Não. Seriam muitos imperfeitos para um só perfeito.
De certo que a resposta tende para a reflexão de que NÓS, DEPOSITÁRIOS, não deveríamos depositar, e sim, sermos protagonistas de tantas expectativas. E assim, não teríamos decepções, mas sim, SURPRESAS infindáveis!
Não deposite. Surpreenda-se, e não decepcione-se!
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